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Cemitérios de Dragões

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Escrito pelo já conhecido autor brasileiro Raphael Daccon, “Cemitérios de Dragões” é uma aventura complexa, violenta e cheia de fantasia que, em meio a trancos e barrancos, consegue entreter e satisfazer o leitor, iniciando a série “Legado Ranger” em boa forma.
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Título: Legado Ranger: Cemitérios de Dragões
Autor: Raphael Draccon
Ano: 2014
Páginas: 352
Editora: Rocco
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Na trama, cinco pessoas totalmente diferentes acordam num mundo paralelo, sem saber o porquê de estarem ali e o que fazer para conseguirem sair. Temos Derek, um soldado do exército americano perdido em uma espécie de caverna de mineração, escravizado por demônios junto com outras raças também presas ali como anões, gigantes e habitantes de Vega; Amber, uma garçonete irlandesa praticante de artes marciais mistas; Romain, um francês mestre em Parkour super irônico e com temperamento explosivo, e que junto com Daniel, um hacker brasileiro e nerd, serve como alívio cômico e protagoniza os momentos mais engraçados da narrativa. Por fim temos Ashanti, uma guerrilheira africana crescida em meio a conflitos étnicos em Ruanda.
A narrativa tem praticamente três pontos de vistas diferentes, que são alternados de capítulo para capítulo. Derek e Amber estão sempre juntos, assim como Romain e Daniel. Já Ashanti é a única entre os protagonistas a passar por sua história quase sozinha, interagindo somente com outros coadjuvantes também interessantes como o príncipe Rogga e Mihos – seu interesse amoroso. O grande risco de quando se tem uma narrativa que fica mudando de pontos de vistas é o desafio de fazer com que cada história seja atrativa para o leitor, e Draccon consegue fazer isso com sucesso. As três linhas do tempo conseguem intrigar e entreter quase igualmente, embora Derek e Amber percam um pouco de destaque no meio do livro.
Ainda assim, não há dúvidas em relação à quais são os personagens mais carismáticos de “Cemitérios de Dragões”. Romain e Daniel praticamente roubam a cena sempre que estão passando por alguma situação inusitada, todas cheias de tiradas e sarcasmo. A relação desenvolvida entre os dois, que no início da trama nem se conheciam, acaba resultando num verdadeiro bromance, o que gera certa identificação com os leitores por se tratar de uma relação crível, semelhante à de dois melhores amigos na vida real.
- Roger that! – gritou Daniel, começando a correr.
- “Roger that”? – reclamou Romain, enquanto corria. – Onde foi que você aprendeu uma porcaria dessas? Apocalypse Now?
- Hã… – Daniel soou constrangido. – Resident Evil?
A grande surpresa aqui é que Draccon joga na cara do leitor problemas polêmicos que estão presentes também no mundo real, no cotidiano das pessoas. Apesar de a história ser cheia de fantasia e ficção científica, ela também aborda temas como o aborto e doenças terminais de forma bastante direta, o que torna os personagens ainda mais humanizados, críveis e reais, mostrando o drama pelos quais já passaram e criando um elo mais forte e emocional entre eles e o leitor. Exemplo disso é a história de Romain, o personagem mais divertido da trama e que, na verdade, tem um passado chocante e até mesmo vergonhoso.
Mesmo com os protagonistas bem aprofundados, a história ainda falha em tentar forçar e até manipular a emoção em vários momentos. São diversas as cenas em que o choro tenta ser enfiado goela abaixo dos leitores, inclusive na perda de alguns personagens sem destaque e carisma nenhum, quase que irrelevantes para a história. Além disso, Draccon também exagera nas frases de efeito, que quase sempre localizadas no final de capítulos, acabam soando mais piegas do que marcantes.
A trama também perde o ritmo conforme o livro se aproxima da metade, com alguns momentos que soam desnecessários e estão ali somente para inflar o número de páginas, fazendo com que “Cemitérios de Dragões” acabe parecendo mais longo do que realmente deveria ser. Ainda assim, a história volta ao auge quando atinge o seu clímax, onde há uma verdadeira explosão de cenas de ação empolgantes e momentos que vão deixar os nerds e até os fãs de Power Rangers extasiados. Quando os protagonistas finalmente se encontram (o que era de se esperar que acontecesse antes, levando em conta a sinopse do livro), todo o aguardo acaba sendo recompensado com um desfecho deveras frenético, onde temos uma batalha entre as mais diferentes criaturas fantasiosas deste mundo paralelo, incluindo dragões, homens-leão, demônios, bruxas e os tão aguardados Rangers.
Com referências desde Star Wars e Harry Potter até os mais conhecidos filmes e games da cultura pop, “Cemitérios de Dragões” pode ser um deleite para os nerds de plantão e uma aventura satisfatória para os leitores comuns. Mesmo sendo uma leitura mais pesada e que derrape um pouco no ritmo da narrativa, o resultado final é mais um dos motivos para nos orgulharmos da literatura fantástica brasileira.

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